Com licença, sou professora, investigo de forma informal, formo professores e distribuo conteúdos. Que valor é o meu?
“Hide not your talents, they for use were made. What’s a sun dial in the shade?” ~~ Benjamin Franklin
Quando, no final do ano letivo 2010/2011, ou melhor, concluído o processo de avaliação de desempenho docente desse ano, fui surpreendida por um registo de avaliação que no ponto “Dinamização de projetos de investigação, desenvolvimento e inovação educativa e sua correspondente avaliação.” registava “n.a.” – não aplicável – não me surpreendeu a menção (não podia desejar mais que “Muito Bom” já que, no 2º ano do biénio, tinha estado na escola a 20%, embora procedesse exatamente com o mesmo empenho e participasse a distância de forma irrepreensível) surpreendeu-me aquela decisão de não avaliar aquele parâmetro para toda a escola. Se ele tivesse sido avaliado, o meu caso teria de ser distinguido; por isso, como em várias outras situações da minha vida, fui penalizada por fazer diferente,… ser diferente. Fiquei sobretudo triste porque uma escola que decide não considerar os tais “desenvolvimento e inovação educativa” está a negar-se a ela mesma.
Se participei com o meu trabalho e o dos meus alunos no ticEDUCA e no Challenges 2012, inclusive com este bonito video, não foi decerto para avaliação, foi por tudo o que aprendemos no processo. Mas não posso deixar de lembrar esta situação ao iniciar estas reflexões que me comprometi a fazer a propósito de mais uma magnifica conferência do Professor António Dias Figueiredo e uma apaixonante conversa em torno dessas questões dos conteúdos e dos contextos educativos.
Eu sou uma professora que mudou os seus contextos. Deixem-me escrevê-lo assim. Na verdade, eu sempre fui mudando alguma coisa, o manual dos conteúdos arrumadinhos nunca foi foi o meu instrumento preferido e, na minha sala de aula, o aluno sempre foi o centro. Por volta de 2000, 2001, 2002, foi despertando a minha curiosidade esse ambiente digital, o computador, os recursos na web, a facilidade de publicação, a possibilidade de ter um profteresa.net e ele foi nascendo, um lugar outro onde os meus alunos encontravam o que íamos trabalhando nas aulas e mais ainda.
Esse meu trabalho evoluiu até ao desejo do desenvolver; inscrevi-me no Mestrado em Ciências da Educação (Tecnologias educativas) e essa paixão cresceu; como todas as paixões teve os seus perigos e, depois de várias ideias, todas elas interessantes, assumi finalmente que queria investigar o meu próprio trabalho com as ferramentas e condições naquelas alturas disponíveis para a maior partes dos docentes e escolas e embrenhei-me numa intrincada tese onde estudei Tecnologias e estudei Avaliação e onde procurei provar que era possível aprender digitalmente e ter bons resultados devidos a uma série de factores distintos.
Surgiu depois a vontade de passar dos workshops ocasionais para cursos de formação docentes e as oportunidades foram surgindo. O que aconteceu foi que, paralelamente a essas sessões em ambiente formal com direito a moodles bem organizadinhos (não porque a formação fosse a distância mas porque acredito que com os colegas professores se deve trabalhar de forma não muito distinta do que em outra situação de ensino aprendizagem: CONFIAR, APOIAR, EXIGIR, MOTIVAR, APOIAR MAIS AINDA e o Moodle permite-me organizar esse apoio e dotar os docentes de materiais bem estruturados, sempre disponíveis), fui também “provocando” os colegas nas redes a alinharem comigo em atividades de colaboração; e tenho feito, com essas “provocaçõezinhas” aquilo a que chamo desenvolvimento profissional docente (“Ai Teresa, gosto tanto desta tua ideia, vou fazer também…”, “Teresa, tenho aprendido imenso consigo, obrigada”, “Teresa, gostaria de….preciso de …pode…?”)
E eis-me chegada ao ponto que estou: um momento em que continuo reconciliada comigo mesma depois de ter percebido que aquilo que me caracterizava era precisamente o ser professora (e sê-lo, sempre dá muito jeito quando andamos a falar de educação, a trabalhar em educação), o ser formadora de professores e o, de vez em quando, apresentar uns artigos e construir (tentar, pelo menos) construir algum currículo académico. Ao longo do tempo, por força das circunstâncias daquilo a que chamam a “presença digital” tenho recebido várias solitações também de pessoas que estão a preparar as suas teses (sobretudo de mestrado) e tenho dado, não orientações, mas aquilo a que chamo apenas “dicas”, pequenas análises pois não há nada como um olhar-outro para ver no nosso trabalho aquilo que não vemos em determinado momento.
Paralelamente a isto, continua aquilo em que julgo ter-me tornado “mais conhecida”: é que, diariamente, leio e arrumo uma diversidade de fontes de conteúdos desta área das tecnologias educativas e filtro-as, distribuindo, agrupando, questionando e, tenho a certeza, dando em certos momentos a várias pessoas, um pequeno conhecimento que faltava, uma pequena ferramenta que ajuda.
Eu sou apenas isso. Agora. Não estou a fazer o Doutoramento. O que não implica que não sonhe com esse feliz momento em que eu possa dar-me ao luxo de fazer aquilo de que sempre tanto gostei: ler e estudar. Lá chegarei. Espero.
***
PS: hoje estou já demasiado cansada, mas é minha intenção anotar algumas ideias também sobre o Seminário de ontem na Universidade Aberta. LMS, Redes… falarei sobre isso.

- Rubricas de Avaliação online
- Ai os Exames, os Exames!…. registo a minha opinião.
O meu orientador de mestrado considerava, a propósito das reuniões, dos relatórios, dos planos e das planificações que estes só faziam sentido se alterassem a realidade dentro da sala de aula.
A investigação informal que fazes (não me parece que tudo seja informal: a produção de comunicações, posters, capítulos de livros é, a meu ver, investigação formal) é a que mais necessária é nas escolas.
E passo a explicar porquê:
parte do conhecimento profundo que tens da realidade,
parte da necessidade que sentes de a melhorar, de melhorar o contexto
procuras insistentemente novas ferramentas que de uma forma mais adequada possibilitem a melhoria das aprendizagens
contextualizas devidamente a utilização dessas ferramentas (escolhes a que consideras mais adequada aos objectivos que pretendes atingir)
procuras tirar conclusões sobre a sua utilização
partilhas as ferramentas e, quando é caso disso, exemplos práticos da sua utilização.
Produzes e fazes produzir investigação (formal e informal) sobre a sua utilização.
A investigação formal que apenas serve para possibilitar a obtenção de um grau académico, a publicação de um artigo, ou mesmo a criação de conhecimento é importante mas não é transformadora.
Quando publicas um exemplo prático de utilização de uma ferramenta como o GoogleEarth e refletes sobre essa utilização informalmente estás a transformar não apenas o contexto das tuas aulas mas também a propiciar que outros o façam. O mesmo acontece quando partilhas ferramentas e ideias de potenciais utilizações.
Este espírito reflexivo, transformador, que tanto cabe na investigação formal como na investigação informal. Que pode nascer da necessidade de publicação de um artigo, ou ter como consequência a publicação de um artigo, comunicação ou poster. Este espírito que tenta chamar mais gente à utilização de ferramentas, à atitude reflexiva, à transformação, à melhoria. É desta investigação, formal ou informal, que cada vez mais precisamos nas nossas escolas.
Olá Teresa! Chegado de uma ausência de dois dias, aqui vai um comentário improvisado, que não sei se vai ao encontro do seu ‘post’. O meu desejo era que sim, mas posso não ter lido atentamente as entrelinhas.
Um dos legados inspiradores das corporações medievais foi o mecanismo pelo qual o “artífice” ascende ao estatuto de referência da “classe” pela apresentação de uma “obra prima”. Este legado foi absorvido pelas culturas monásticas ligadas à criação das universidades, e acabou por se materializar no “doutoramento” (entre outros rituais académicos que chegaram aos nossos dias).
Um dos aspectos curiosos desse mecanismo é que formaliza uma lógica de reputação. Assistimos hoje à emergência de lógicas de reputação alternativas muito interessantes, inspiradas pelas redes sociais, e discute-se mesmo se poderão vir a ser postas em prática no meio académico. Pessoalmente, estou convencido de que sim, embora haja ainda um longo caminho a percorrer.
Em qualquer dos casos, o facto de lhe perguntarem pelo seu “doutoramento” tem mensagens implícitas que me parecem positivas. No caso em que a pergunta vem dos “académicos” (uma comunidade com algumas virtudes, mas cheia de defeitos), uma dessas mensagens é que a olham como membro da “corporação” (se é que essa pertença tem algo de bom!).
A formalidade e informalidade dos nossos percursos de criação de conhecimento relaciona-se com as pertenças que queiramos assumir nesses percursos. A meu ver, todos os percursos são legítimos e meritórios, desde que autênticos e percorridos com paixão. O grande teste acaba, assim, por ser feito por nós próprios. Sentimo-nos bem, ou não, nessas comunidades?
Olá Professor
Muito obrigada pela honra que me dá ao comentar, novamente, este meu blogue. O Professor, uma vez mais acertou em cheio…. é que, confesso, mais do que me surpreender, emociona-me o reconhecimento que, na área das Tecnologias Educativas, todo o meio académico me revela. E, no passado dia 12, em que eu, com esta distração meio poética que me caracteriza, me inscrevi num evento porque o desejava escutar, escutar o Hugo, conhecer o Nelson e rever a “minha tribo”…. fiquei ainda mais surpreendida. Calhou o Professor fazer a pergunta e dar-me a certeza de que eu suspeitava: no meio académico muitas pessoas pensarão que eu não me fiquei pelo Mestrado. Mas fiquei, por agora, pelo menos. Mas na verdade, a vontade de investigar o papel que as tecnologias têm no processo de inovação educativa (sobretudo na vertente do desenvolvimento profissional docente que tem vindo a interessar-me nos últimos anos) não diminuiu, pelo contrário, ficou mais forte. Mantenho este blogue que comecei precisamente ao iniciar o trabalho da Tese de Mestrado (que cruzou revisão da Literatura na áreas das Tecnologias e da Avaliação das Aprendizagens) e gostaria de pelo menos tentar publicar um artigo científico por ano. Se me ficar por um Poster já não é mau.
Aproveito a ocasião para agradecer a todos os que no meio académico me têm vindo não apenas a inspirar mas a apoiar e tenho até receio de começar a enumerar nomes pois poderei esquecer alguém. Mas todos sabem quem são.
Um grande abraço!
Teresa
E…. não sei se ficou evidente mas…. respondendo à sua questão final, Professor ADFig: é claro que me sinto muito bem…. uma espécie de fascínio que, por natureza, nunca me abandonará
