Um percurso…

Isto de ser Professor – tentativa vã de definição. Só porque é Natal.

Descobri-me Professora na 1.ª aula. A cada dia que passa essa profissão está mais enraizada em mim. Estive dois anos sem ensinar/comunicar (a não ser situações de comunicações, workshops e formação docente) e senti-me a esmorecer, como uma planta sem água. Quem me conhece, sabe que foi assim.

Este ano, sinto-me meio dividida no perceber isso do ser “Professora” e “Aquela que está na Escola e Ensina”. Tenho uma relação humana excelente com uma turma muito difícil. E todos os dias sinto que ensiná-los é muito difícil. E o curioso é que todos eles, mesmo os com mais dificuldades, mais desconcentrados, mais indisciplinados, querem aprender. Não sabem é muito bem como. E revelam a maior das dificuldades em ações básicas: saber escutar, concentrar-se a ler. Se em qualquer aula é fundamental, imaginem numa de Português. Concentrei o meu trabalho do 1.º período no desenvolvimento dessas capacidades, atrasando a gestão do programa e das metas, e não sei se consegui.

Na escola, do que sinto mais falta é de tempo para me sentar com os colegas e discutir estratégias, de organização de materiais, de construção de instrumentos. Teria reunião todas as 4.ªs feiras se fosse para isto. Mas… não posso dizê-lo em voz alta se não sou crucificada. E se os meus parcos leitores disserem a alguém que leram isto aqui, eu digo que estava a alucinar :)

Mas hoje escrevo porque…. não sei o que se passa na escola. Há uma crescente valorização dos instrumentos ditos de balanço e de controlo. O resultados dos mesmos não sei quem avalia nem a que conduz. Gostava de pensar que se traduzirá a uma adequação de estratégias e a uma melhoria das aprendizagens mas não é bem a isso que assisto anos após anos.

Esta imagem mostra os cinco anexo que recebi hoje. 5 documentos que terei de preencher, por turma. A estes acrescerão os registos de avaliação, os Planos de Apoio, o balanço da Leitura Recreativa. Por turma. Muitos documentos mesmos. Mas eu sou privilegiada; como acumulo funções, só tenho uma turma. Mas…. os colegas que se dedicam em exclusivo á escola e têm 6, 7 turmas?? Estarão, por esta hora, afundados em papéis.

anexos_avaliacao

E reparem, não é uma crítica às minhas chefias, com as quais tenho aprendido bastante. É uma critica à Escola, em geral. É uma crítica a nós mesmos que, com o tempo, estamos a afastar-nos do essencial. E o essencial é só um. Só um, pois tudo o resto virá por acréscimo. Fazê-los descobrir o prazer de aprender, de saber escutar, ler escrever, saber….

Gostava tanto mas tanto que parte do tempo e do esforço colocado no preenchimento destes papéis fosse colocado em momentos de formação, formal ou informal, com ações que de facto pudessem ter um impacto nas práticas e a correspondente melhoria no envolvimento dos alunos e das aprendizagens.

Querido Pai Natal, no próximo ano….

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