Conferência Inovar em Educação. Educar para a Inovação
Prólogo
Muito sinceramente não sei se as considerações que se vão seguir serão de alguém que procura inovar em educação, de alguém que também procura educar para a inovação e criatividade, ou ainda, de alguém que se dedica a tentar mostrar a outros algumas forma de inovarem também. Sei que as escrevo agora sentindo um cansaço extremo depois de semana e meia de aulas a alunos de 7º ano e workshops a professores do Ensino Básico. Faço-o porque, entusiasmada como sempre, o “prometi” de manhã. Aqui vão, não no meu melhor, mas….
Tive ontem a oportunidade de assistir a uma conferência de um Professor extraordinário, um líder na minha área de actuação (confesso que gostava de poder ter escrito de investigação mas… não…. não lhe posso chamar isso embora procure compreender, saber, em cada dia da minha vida). A motivação era enorme, maior ainda desde que tinha sentido o privilégio de saber que o Professor me seguia no Twitter e, além de já ter feito um RT meu, me tinha enviado uma DM muito simpática a agradecer a divulgação do evento. Eu sei que isto pode parecer ridículo para o comum dos mortais mas para quem tem uma existência em rede e um trabalho aí conhecido e divulgado, isto tem a sua dose de importância. Pronto, confessei
Os slides da conferência poderão ser revistos no final destas minhas considerações (espere…. não faça já scroll down e leia mais um pouco) e darão uma imagem da qualidade das reflexões com que o Professor António Dias de Figueiredo (sim, é dele que falo; conheça-o melhor em www.adfig.com) nos presenteou ontem num Ciclo de Conferências organizado pelo Doutoramento em Avaliação do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e apresentado pelo investigador e Professor que orientou a minha Tese de Mestrado, Domingos Fernandes.
No entanto, aquilo que vos deixo aqui é a visão, o olhar simples, da pessoa que sou, neste particular momento do meu percurso profissional: uma professora do Ensino Básico, ex-formadora do Ensino Profissional, formadora de professores e Mestre em Tecnologias Educativas, com uma presença em rede de 6 anos o que já parece bastante neste mundo em constante evolução.
Desde o primeiro momento, o Prof. ADFIG cativou a audiência ao referir a eventualidade de alguém pretender cobrir o evento pelo twitter e sugerindo a ashtag #eduinova mas referindo, logo a seguir, uma frase importante para reflexão “How often do you tweet when you make love” :-)))
Uma das primeiras ideias a reter, para mim que tenho bem presente o conteúdo de uma TED Talk de Sir Ken Robison (que viria a ser referida depois), foi a constatação de que grande parte dos nossos alunos não é inovador graças à escola mas apesar da escola. E de facto, a escola, tal como está organizada, pode ser um factor limitativo da criatividade (esta frase é minha que estou constantemente a dar a volta às coisas para conseguir introduzir, trazer ao de cima, alguma criatividade).
Em seguida, a ideia de que nada é verdadeiramente uma inovação se não permanecer. E aqui, dei por mim a pensar em todas as coisas que já fiz e faço para tentar perceber se afinal o convite que me tinha sido dirigido aqui teria sido acertado. Concluí que sim, que eu inovo ou, pelo menos, tento
Falou-se também da questão importantíssima de “produzir valor”; competência e criatividade já não são apenas factores de sucesso, são factores de sobrevivência no mundo do trabalho hoje em dia. É importante que os alunos, seja em que fase da sua escolaridade for, sejam educados para inovar e empreender, para construir autonomamente a sua capacidade para criarem valor.
A clarificação de conceitos como inovação incremental e disruptiva foi bastante importante também. Além de reflectir, aprendi imenso. O discurso do professor foi sendo, de vez em quando, pautado por frases emblemáticas como esta: “regar no deserto” que pretendia provocar a reflexão sobre o facto de a inovação incremental em educação ser ou não possível. Defendeu-se que é possível mas tem sucesso difícil, pelo que o percurso mais promissor para a educação é a inovação disruptiva (cresce discretamente nas margens do sistema até começar a transformá-lo de forma irreversível).
Foram dados alguns exemplos de inovações disruptivas nos sistemas escolares. E este foi um dos momentos particularmente importantes porque me relembrou um projecto meu que tenho tido muita dificuldade em fazer vingar; percebi que na sua concepção ele faz todo o sentido mas preciso de entender no que estou a falhar (além do desânimo provocado pelas resistências exteriores) – falarei dele oportunamente.
Exemplos de inovações disruptivas estão, penso eu, nos slides; eu anotei as seguintes:
– cursos para crianças sobredotadas;
– cursos para enriquecimento de crianças com necessidades educativas especiais;
– cursos opcionais sobre línguas… artes…
– apoio a distância para alunos com dificuldades…
Poderia ainda referir outras ideias mas vou saltar para as importantes conclusões finais, as mesmas que me fizeram sair de lá um pouquinho pensativa e ansiosa, reflectindo sobre o meu papel actual na escola, na rede, nos meios educativos.
Foi defendida a realização de parcerias duradouras entre unidades de investigação e comunidades escolares; a possibilidade, no fundo, de se realizarem projectos de investigação-acção e design-based research com equipas mistas de professores e investigadores.
A ideia parece-me não só excelente, como, pela minha experiência, detentora de muito muito sentido. Dei por mim a pensar que estou ali pelo meio pois, na verdade, a única ajuda que tive de uma instituição foram as aulas dos dois semestres de Mestrado e depois, em tecnologias, tenho feito muito sozinha e com a ajuda da minha personal learning network, a minha cada vez mais preciosa PLN
Dei por mim a pensar que já não sou uma professora apenas, mas também não sou uma investigadora; não sou apenas uma formadora de professores também… não sei como consigo ser um pouco de tudo isso e, talvez por isso é que podia ser bem melhor. E…. não sei que concluir…. se, a ser possível optar por uma área, ser apenas isso e melhor ou se a riqueza do pouco que já sei e que consigo fazer, vem precisamente daí, desses 3 olhares diferentes que tenho, dessas três experiências que vou reunindo e diversificando.
Aguardo os vossos comentários

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- Algumas coisas pelas quais estou grata – o quadro interactivo é uma delas
Muito obrigado pelo seu relato, tão enriquecido pelo seu sentir pessoal. Um aspecto que achei muito interessante, no meu próprio sentir da conferência, foi o debate final, onde foram levantadas questões tão estimulantes. Curiosamente, a maior parte não dizia respeito à inovação, mas ao mundo cruel e impiedoso que eu descrevi como justificando a nossa preocupação colectiva com ela. Cito de memória, correndo o risco de distorcer as ideias de quem as levantou: (1) Num mundo onde só os melhores têm sucesso garantido, como se garante que os “melhores” não acabam por ser os “menos bons”? (2) Como se faz a conciliação de uma educação que desenvolva “os melhores” com o ideal de uma educação inclusiva? (3) Se o mundo é plano, porque havemos de ser redondos? Por outras palavras, se o mundo é cruel e insensível, não deveremos sê-lo também? Não vou repetir as minhas tentativas de resposta, para não correr o risco de o meu comentário ficar mais longo do que o “post”, mas acho que ficam em aberto, para reflexão colectiva, questões bem interessantes!
As questões relativas à essência do tema – a inovação – centraram-se quase exclusivamente no fenómeno da resistência à mudança. Como superá-la, nos sistemas educativos, nas escolas, em várias universidades? Na minha tentativa de resposta, que também não vou aqui reproduzir, referi o potencial da Sociologia da Tradução (nome que alguns usam para designar a Teoria das Redes de Actores [ou dos Actores-Rede]). Aproveito, por isso, para deixar aqui o URL para o artigo seminal sobre o tema, da autoria de Michel Callon:
http://bit.ly/5Q0H7z
Ó professor, que maravilha! eu não me importava nada que o seu comentário ultrapassasse o meu post em comprimento
Agradeço a disponibilidade e a simpatia e espero que mais pessoas possam aproveitar esta extraordinária forma de alargamento da discussão motivada pela sua conferência. Penso que o twitter e o FB poderão dar uma ajudinha!
Voltarei mais tarde para alguns comentários mais circunstanciados.
O que é comum ao avanço da civilização desde que são registados textos e imagens ? Que características são comuns a quem conseguiu inovações ou que as soube aplicar com sucesso? Num mundo de futuro incerto quanto à evolução penso que têm de ser essas características humanas que devemos desenvolver o mais que pudermos através do sistema (ou sistemas) educativos.
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